Author Archive

“Soleil Levant”, François-Auguste Ravier

“Os Nossos Sonhos são Hermes de Mármore”, Rainer Maria Rilke

OS NOSSOS SONHOS SÃO HERMES DE MÁRMORE

Os nossos sonhos são hermes de mármore
que pomos nos nossos templos
e iluminamos com as nossas grinaldas
e aquecemos com os nossos desejos.

Nossas palavras são bustos feitos de ouro
que levamos connosco para os dias –
os deuses vivos elevam-se
na frescura de outras praias.

Estamos sempre extenuados,
quer fortes, quer em repouso,
mas temos sempre sombras radiosas
que fazem os gestos eternos.

“Astronomical Observations – The Moon”, Donato Creti

“É tão fundo o silêncio”, José Saramago

É TÃO FUNDO O SILÊNCIO

É tão fundo o silêncio entre as estrelas.
Nem o som da palavra de propaga,
Nem o canto das aves milagrosas.
Mas lá, entre as estrelas, onde somos
Um astro recriado, é que se ouve
O íntimo rumor que abre as rosas.

“Metrópolis”, George Grosz

“Gaiola de Vidro”, Jorge de Sena

GAIOLA DE VIDRO

Como paredes através das quais
o mundo vemos pelo ser dos outros
quem vamos conhecendo nos rodeia
multiplicando as faces da gaiola
de que se tece em volta a nossa vida.

No espaço dentro (mas que não depende
do número de faces ou distância entre elas)
nós somos quem somos: só distintos
de cada um dos outros, para quem
apenas somos a face em muitas,
pelo que em nós se torna, além do espaço,
uma visão de espelhos transparentes.

Mas o que nos distingue não existe.

“Sailboats near the coast”, Henri Martin

“Barcos”, Sophia de Mello Breyner Andresen

BARCOS

Um por um para o mar passam os barcos
Passam em frente de promontórios e terraços
Cortando as águas lisas como um chão

E todos os deuses são de novo nomeados
Para além das ruínas dos seus templos

“La Répétition”, Edgar Degas

“Para ser grande, sê inteiro”, Ricardo Reis

PARA SER GRANDE, SÊ INTEIRO

Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive.