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CADA ÁRVORE É UM SER PARA SER EM NÓS
Cada árvore é um ser para ser em nós
Para ver uma árvore não basta vê-la
a árvore é uma lenta reverência
uma presença reminiscente
uma habitação perdida
e encontrada
À sombra de uma árvore
o tempo já não é o tempo
mas a magia de um instante que começa sem fim
a árvore apazigua-nos com a sua atmosfera de folhas
e de sombras interiores
nós habitamos a árvore com a nossa respiração
com a da árvore
com a árvore nós partilhamos o mundo com os deuses
MANHÃ MARÍTIMA
Manhã marítima esta que com barcos
à bruma veio suscitar brancura
de bojos. Brisas. E um real esfumado
onde as águas cumpriam essa sua
paz de maré baixando.
E a lomba especular que unia a altura
de um horizonte côncavo. E, no entanto,
a abrir viagem. E, no abrir, a abstrusa
inclinação a transgredir o abstracto
por uma via onde o concreto funda
a sua ausência. Ou, mais ainda, o estado
em que é a própria ausência que recruta
a oscilação marítima de barcos
que a maré da palavra perpetua.
CAIS
Para um nocturno mar partem navios,
Para um nocturno mar intenso e azul
Como um coração de medusa
Como um interior de anémona.
Naturalmente
Simplesmente
Sem destruição e sem poemas,
Para um nocturno mar roxo de peixes
Sem destruição e sem poemas
Assombrados por miríades de luzes
Para um nocturno mar vão os navios.
Vão.
O seu rouco grito é de quem fica
No cais dividido e mutilado
E destruído entre poemas pasma.
BELVEDERE
I know those are woods, rivers,
meadows, villages, and that
I love them, I know it,
but more and more as now, as
a bird loves its nest:
not for ever. I see your withered
fingers on the rail, the small, grey
feathers fluttering at your temples,
the crowsfeet near your eyes,
dear one, do you see how still and far
that world is now, how only
the shadows of the clouds are moving,
do you feel how the wind is all
you feel. A time is coming when we’ll
be birds again, as once we were,
in the days before we were.
ONLY BREATH
Not Christian or Jew or Muslim, not Hindu,
Buddhist, sufi or zen. Not any religion
or cultural system. I am not from the East
or the West, not out of the ocean or up
from the ground, not natural or ethereal, not
composed of elements at all. I do not exist,
am not an entity in this world or the next,
did not descend from Adam and Eve or any
origin story. My place is placeless, a trace
of the traceless. Neither body or soul.
I belong to the beloved, have seen the two
worlds as one and that one call to and know,
first, last, outer, inner, only that
breath breathing human being.