OS NOSSOS SONHOS SÃO HERMES DE MÁRMORE
Os nossos sonhos são hermes de mármore
que pomos nos nossos templos
e iluminamos com as nossas grinaldas
e aquecemos com os nossos desejos.
Nossas palavras são bustos feitos de ouro
que levamos connosco para os dias –
os deuses vivos elevam-se
na frescura de outras praias.
Estamos sempre extenuados,
quer fortes, quer em repouso,
mas temos sempre sombras radiosas
que fazem os gestos eternos.
É TÃO FUNDO O SILÊNCIO
É tão fundo o silêncio entre as estrelas.
Nem o som da palavra de propaga,
Nem o canto das aves milagrosas.
Mas lá, entre as estrelas, onde somos
Um astro recriado, é que se ouve
O íntimo rumor que abre as rosas.
GAIOLA DE VIDRO
Como paredes através das quais
o mundo vemos pelo ser dos outros
quem vamos conhecendo nos rodeia
multiplicando as faces da gaiola
de que se tece em volta a nossa vida.
No espaço dentro (mas que não depende
do número de faces ou distância entre elas)
nós somos quem somos: só distintos
de cada um dos outros, para quem
apenas somos a face em muitas,
pelo que em nós se torna, além do espaço,
uma visão de espelhos transparentes.
Mas o que nos distingue não existe.
BARCOS
Um por um para o mar passam os barcos
Passam em frente de promontórios e terraços
Cortando as águas lisas como um chão
E todos os deuses são de novo nomeados
Para além das ruínas dos seus templos
PARA SER GRANDE, SÊ INTEIRO
Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive.